Pouco mais de um ano depois firmar parceria com a Microsoft para desenvolver ferramentas digitais para o agronegócio, a Bayer anuncia os primeiros resultados do acordo: novas soluções para uso não somente dos agricultores, até então foco da estratégia digital da companhia, mas de toda a cadeia ao redor deles, ou seja, indústria, varejistas, bancos, seguradoras, startups e outros agentes.
Alguns dos serviços serão ofertados pela própria Bayer, os chamados “AgPowered Services”, utilizando o sistema da Microsoft Azure Data Manager for Agriculture, que coleta e organiza, de forma simplificada, milhares de dados compilados de diferentes fontes.
Informações de atividades de campo obtidas por máquina agrícolas, imagens de satélite, drones e outras fontes serão processadas pelo Azure Data Manager, armazenadas em nuvem e convertidas em ferramentas mais facilmente utilizáveis por outras empresas para obter análises preditivas, por exemplo.
“Como olhar para imagens de satélite e remover o efeito de ter nuvens nas imagens? Como usar essas imagens para prever se há doenças ou outras coisas acontecendo na plantação, ou usar os dados para prever como a safra avançará e de que forma isso pode mudar dependendo de ter dias ensolarados ou frios? Estes são exemplos de recursos que vamos oferecer, os AgPowered Services que, combinados com o Azure Data Manageer, permitirão às empresas avançar em suas atividades mais efetivamente”, disse, em entrevista, o presidente global da Climate FieldView, plataforma de agricultura digital da Bayer, Jeremy Willians.
A oferta de soluções da nova plataforma, contudo, não se limitará aos serviços da Bayer, afirma Willians. “Nossa expectativa é que os clientes sejam capazes de selecionar diferentes grupos de recursos, conforme suas necessidades, e que adicionalmente outras empresas contribuam com tecnologias e recursos para a plataforma. Não será apenas a Microsoft e sua base ou a Bayer; com o tempo serão outras empresas”, afirmou o executivo.
“Acredito que nos tornaremos algo similar à Amazon, que tem recursos para fornecer, tem seus próprios produtos para venda, mas também tem um marketplace para outras empresas que busquem solucionar um problema por meio da joint venture formada pela plataforma”, disse.
Com dados próprios e outros fornecidos por parceiros ao longo do tempo – com o consentimento de produtores, seguindo normas legais de cada país, ressalta Willians -, a Bayer deve ampliar o escopo de suas soluções digitais, alcançando empresas de alimentos, bancos, montadoras, grandes e pequenas companhias, além de startups.
Seu interesse, prevê a empresa, não será só a operação agrícola em si como também sua rastreabilidade, em monitorar o retorno das lavouras, correlacionar com emissões de carbono e outras atividades.
“Quando um cliente entrar na nova plataforma, encontrará muitas soluções para escolher e poderá fazer parte do sistema às vezes compartilhando dados, às vezes comprando soluções”, disse Willians.
Um dos parceiros globais da Bayer e Microsoft na estreia da iniciativa será a CNH Industrial, de equipamentos agrícolas, que compartilhará seus dados com a plataforma tendo em vista, em um futuro próximo, oferecer a produtores sistemas de mais fácil uso.
Outro parceiro, de acordo com Williams, será a Land O’Lakes, empresa norte-americana de alimentos com atuação em todo o país. “Conhecemos muitos bancos interessados em ter recursos digitais que ajudem a avaliar como as operações agrícolas de clientes estão avançando, para usar essas informações em determinados serviços financeiros”, explica o presidente global da Climate FieldView.
“Ainda teremos o Climate FieldView como a parte do que fazemos focado no produtor. Mas estamos realmente nos movendo para um espaço em que poderemos ter um impacto maior na agricultura, ajudar a indústria de alimentos a ser mais produtiva e sustentável, assim como outras empresas.”
Após ser lançada neste mês em forma de teste para clientes, a companhia deve anunciar, “mais tarde”, em data a ser definida, o início da operação comercial. Os detalhes sobre como monetizar a nova plataforma ainda estão sendo discutidos, de acordo com Willians, mas a ideia é licenciar soluções, softwares ou aplicativos para as empresas clientes, assim como um usuário paga pelo pacote Office ou por um aplicativo qualquer.
O número de clientes que poderão ser atraídos para a plataforma nesta nova etapa ainda não foi estimado, diz Willians, mas a perspectiva é que, inicialmente, a maior parte seja de grandes empresas com negócios relacionados ao agronegócio. “Nosso foco inicial tem sido os grandes players, mas acredito que as soluções serão úteis também para empresas de médio porte e também para as pequenas, como startups”, diz.
A Climate FieldView, plataforma da Bayer focada no produtor rural e no monitoramento de lavouras, chega hoje a 23 países monitorando 220 milhões de acres (pouco mais de 89,030 milhões de hectares) em todo o mundo. No Brasil, até o começo do ano passado, 22 milhões de hectares eram mapeados pela ferramenta.
Apesar da perspectiva de cobrança pelas soluções ofertadas na plataforma conjunta com a Microsoft, grande parte do retorno das iniciativas digitais da Bayer vem da melhor avaliação que produtores e clientes passam a ter de seus produtos – agroquímicos e sementes – com o uso de soluções digitais e suas recomendações.
“Sabemos hoje que as pessoas que já estão na plataforma Climate FieldView avaliam nossos produtos físicos melhor, nos dão pontuações mais altas; com eles, temos menos desgaste e eles compram mais produtos de nossa marca. O que as equipes comerciais acreditam agora é que podemos alavancar um maior engajamento e lealdade para gerar ainda mais valor para a empresa daqui para frente”, argumenta Willians.
“Escolhemos estrategicamente gerar mais valor do uso do Climate FieldView por meio das vendas de produtos físicos e outros benefícios indiretos, em vez de necessariamente tentar gerar receita de assinaturas, mas é muito claro que o uso da plataforma gera valor para os agricultores e eles estão dispostos a compartilhar isso conosco. O equilíbrio exato entre ganhos diretos e indiretos é algo que vamos otimizar ao longo do tempo.”