As primeiras estimativas para a safra 2022/23 projetavam lavouras que renderiam 20 milhões de toneladas de soja no Rio Grande do Sul. Assim, o estado voltaria à vice-liderança nacional no cultivo da oleaginosa após grande quebra na temporada passada. Contudo, bastaram alguns meses para que se desenhasse outro cenário.

O produtor Vanderlei Fries, de São Pedro das Missões, no noroeste do estado, conta que desde 5 de novembro há déficit de chuva na região, com apenas 50 mm acumulados no periodo. “A soja que enraizou mais ainda está sobrevivendo, mas tem pés que não enraizaram, o sol pegou para valer e [a planta] acabou morrendo”, conta.

Segundo ele, em uma área de 40 hectares, sua expectativa é de colher, no máximo, 12 sacas/ha. Situação parecida vive o produtor Astor Posselti, no Vale do Rio Pardo, com a soja plantada em novembro.

“Depois de 40, 45 dias de estiagem a planta perdeu as folhas, tanto é que a soja hoje deveria estar fechando as linhas e a gente observa que todo espaço está aberto, com uma grande quantidade de folhas no chão. Acredito que a perda ficará em torno de 50% ou até mais”, conta.

Lavouras tardias desenvolvem melhor

O panorama do estado varia a cada região. No centro sul do estado, por exemplo, lavouras que foram plantadas mais tarde também tiveram chuva irregular, mas estão se desenvolvendo melhor.

No entanto, em outras áreas gaúchas, a falta de precipitação foi mais sentida. Nestes lugares, é possível notar que muitas plantas abortaram as flores, o que compromete a produtividade. Levantamento feito pela Rede Técnica Cooperativa aponta perdas de cerca de 43%.

Segundo a Emater-RS, o noroeste do estado está entre as regiões mais afetadas. Em Santa Rosa, por exemplo, mais de 50% das lavouras estão comprometidas.

O gerente regional da Emater Santa Rosa, José Vanderlei Waschburger, conta que a fase climática atual é muito severa e fez que, além do abortamento de flores, houvesse menos vagens nas plantas que conseguiram chegar a esse estádio. “É um quadro que não tem como reverter nesse momento”, afirma.

“Já vinha comentando com os produtores sobre a qualidade do grão dessas lavouras plantadas mais cedo e a expectativa era de não ter qualidade no grão. Então o receio do produtor, além dessa baixa produtividade, é que o pouco que sobre na lavoura não tenha viabilidade para comércio”, conta.

Estimativas atuais para a soja do estado

Durante a implantação das lavouras, a estimativa era de uma produtividade de 3.490 quilos por hectare (58 sacas/ha). Porém, atualmente a projeção para o estado é de 2.940 kg/ha (49 sacas).

A Rede Técnica Cooperativa, que faz o balanço entre 21 cooperativas gaúchas, aponta que em algumas regiões o calor e a pouca uminidade pode trazer impactos ainda maiores, com perdas de 70%. Assim, apenas 1.140 kg por hectare (29 sacas) podem ser registradas.

Em Julio de Castilhos, na região central, a lavoura do produtor Moacir da Silva foi replantada em janeiro e estava com as plantas pequenas e até sementes mofadas que não germinaram. Com algumas pancadas de chuva irregulares, mesmo falhada, a plantação se desenvolveu.

“Nesse último mês ela [a lavoura] pegou uns 140 mm de chuva. Claro que não nasceu muito bem, mas ela está bem diferente do que estava há uns meses . Ainda não fechou a linha, mas ainda tem espaço para recuperar um pouco. O dano foi grande”, conta.

 

Fonte: Canal Rural

https://www.canalrural.com.br/projeto-soja-brasil/estiagem-rio-grande-sul-agrava-soja-perdas-irreversiveis/