Aumento de área cultivada impulsiona resultados, mesmo com produtividade abaixo do esperado
A safra de algodão 2023/24 no Brasil está próxima de sua conclusão, com 95,6% da colheita já realizada até a última segunda-feira (09), segundo dados da Conab. Apesar dos desafios enfrentados ao longo do ciclo, como adversidades climáticas e pressão de pragas, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) projeta uma produção recorde, mais em função da ampliação da área plantada do que pela produtividade.
“Foi um ano peculiar. A soja, que antecede 70% da safra de algodão, sofreu impactos climáticos, o que resultou em uma janela de plantio mais curta em janeiro, desfavorecendo o algodão. Dependíamos de boas chuvas no final do ciclo, o que garantiu uma produtividade satisfatória. Não será uma safra tão excelente quanto a de 2023, mas com o aumento da área plantada, teremos um recorde de produção”, afirma Alexandre Schenkel, presidente da Abrapa.
No Mato Grosso, estado que lidera a produção de algodão no Brasil, houve um aumento de 21,57% na área semeada na safra 23/24 em comparação com o ciclo anterior, de acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Contudo, a produtividade foi 6,42% menor. Ainda assim, a produção final no estado deve atingir 6,39 milhões de toneladas de algodão em caroço, um aumento de 13,9% em relação à safra 22/23.
Em Goiás, o cenário é semelhante. Mesmo com os desafios climáticos e pragas, a produção final superou as expectativas iniciais. “Foi um ano atípico, com dificuldades no estabelecimento da cultura devido ao clima e à pressão de pragas, como a mosca-branca e o bicudo. Ainda assim, a maioria dos produtores com quem conversamos está alcançando uma produção acima do esperado”, relata Carlos Alberto Moresco, vice-presidente da Associação Goiana dos Produtores de Algodão (Agopa).
A pesquisadora da Fundação MT, Lúcia Vivan, destaca que a infestação de bicudo foi um dos principais desafios da safra, afetando praticamente todas as regiões produtoras. Além disso, a mosca-branca, que já havia causado problemas na soja, também se mostrou presente no algodão, especialmente na Bahia. “O bicudo sempre foi a principal praga do algodoeiro, mas este ano foi particularmente difícil, exigindo muitas aplicações para controle. A mancha-alvo também foi um problema grave, especialmente em Mato Grosso, devido ao excesso de chuvas em abril”, complementa Schenkel.
Guilherme Hungueria, gerente de campanhas para milho e algodão da Bayer, reforça o impacto das condições climáticas sobre a mancha-alvo. “Esta safra foi atípica, com condições climáticas inesperadas, principalmente no Mato Grosso. A doença, que já é conhecida, apresentou um comportamento diferente, e estamos trabalhando para entender melhor esse fenômeno”, explica.
Lúcia Vivan ainda acrescenta que o clima seco desta temporada favoreceu o desenvolvimento de pragas, especialmente devido à dificuldade de eliminar as plantas remanescentes da soja. “O aumento da infestação de pragas ocorreu em parte pela janela de plantio mais extensa, já que muitas áreas de segunda safra de algodão foram convertidas para a primeira safra, intensificando o problema”, conclui a pesquisadora.
Fonte: Portal do Agronegócio