Depois de subirem por três anos seguidos, os preços do boi gordo encerraram o ano de 2022 mais baixos do que começaram, segundo a Datagro. A consultoria reforça que o recuo decorre do aumento gradativo da oferta de animais, reflexo da mudança do ciclo pecuário. É praticamente certo que a disponibilidade de gado crescerá em 2023, mas há dúvidas do lado da demanda.

O indicador da Datagro para a arroba negociada em São Paulo caiu 14,2% no ano e ficou em R$ 289,90 no dia 30 de dezembro. O valor é baseado em uma média dos últimos três dias úteis até a data de divulgação. Ainda assim, a média de 2022 subiu 1,6% em relação a 2021, para R$ 311,50 por arroba.

“A oferta aumentou e tende a continuar crescendo”, reforça João Otávio Figueiredo, líder de pesquisa da Datagro Pecuária. A empresa evita fazer projeções de preços porque seu indicador é usado para balizar negociações entre pecuaristas e indústria.

Do lado da demanda, o consumo interno diminuiu em 2022 devido aos problemas econômicos, enquanto as exportações bateram recorde. “Em 2021, o embargo da China impediu que alcançássemos a marca histórica de 2 milhões de toneladas, mas em 2022 nós conseguimos”, diz.

De acordo com a Associação Brasileira dos Frigoríficos (Abrafrigo), o país exportou 2,16 milhões de toneladas de janeiro a novembro. Os números consolidados de dezembro ainda não foram divulgados, mas a prévia da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) indicou embarques de 116,6 mil toneladas de carne bovina fresca, refrigerada ou congelada no mês passado.

Figueiredo é mais um a sinalizar que o principal ponto de atenção deste ano é a demanda chinesa, que dependerá das ações contra a covid-19. “Mas, apesar de a pandemia dificultar o funcionamento do food service na China, fala-se em um crescimento de 50% nos pedidos em aplicativos de comida nas grandes cidades nos últimos anos”.

O analista da Datagro projeta que, mesmo que a China importe 10% menos carne bovina neste ano, conforme prevê do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), os embarques brasileiros tendem a não diminuir tanto porque o país tem boi mais barato que a maioria dos concorrentes. “Com o déficit dos Estados Unidos, onde o ciclo pecuário se inverteu para um momento de menor oferta, o Brasil é o fornecedor mais barato”.

Mesmo assim, o país precisa avançar nas negociações para acessar novos mercados, como Coreia do Sul e Indonésia, o que reduziria a dependência da China. “Não é um movimento que acontece do dia para noite, mas é necessário diversificar”, defende.

 

Fonte: Jornal – Valor Econômico

https://valor.globo.com/agronegocios/noticia/2023/01/03/demanda-chinesa-sera-o-fiel-da-balanca-para-preco-do-boi/