Com estimativas díspares, o real tamanho da safra brasileira de café colhida em 2022 ainda pode ser considerada uma incógnita. E, mesmo “precificada”, não livra as cotações do café de surpresas neste primeiro semestre, segundo fontes consultadas pelo Valor. É que o Brasil está na entressafra (janeiro a junho) de um ciclo produtivo menor, e o próximo não dá sinais de ser uma “super safra”, como agentes do mercado internacional acreditavam.
Na lógica de importadores, as árvores estariam descansadas das intempéries dos últimos dois anos e poderiam surpreender. Porém, a natureza está respondendo de outro modo. A safra 2023 será boa, dizem produtores, mas menor que a de 2020 – ano que rendeu o recorde de 63 milhões de sacas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), e que vinha balizando expectativas de compradores.
Há cuidado em fazer análises sobre tendência das cotações, mas quem o faz acredita que há espaço para altas. “Estamos na entressafra de uma safra que foi bem menor”, afirma Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes. Mas não há consenso sobre volumes, tampouco sobre os atuais estoques brasileiros.
A colheita brasileira de cafés (arábica e robusta) em 2022 é estimada com um grande intervalo de diferença, a depender da fonte. Enquanto a Conab indica 51 milhões de sacas, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) considera 62 milhões. Para Fernando Maximiliano, analista da StoneX, será preciso observar o ritmo das exportações nos próximos meses, que evidenciará qual a disponibilidade de grãos e o apetite externo. E esse movimento poderá afetar os preços no mercado.
As cotações nos mercados interno e externo estão em queda nos últimos meses, após uma intensa alta, que ganhou força a partir das geadas de julho de 2021 no Brasil. Mas, apesar das baixas recentes, a média em Nova York em 2022, de US$ 2,1283 por libra-peso, foi 25% maior que a de 2021, segundo o Valor Data.
Gil Barabach, analista da Safras & Mercados, diz que costuma ocorrer um descolamento entre os mercados externo e interno na entressafra brasileira. Ele vê espaço para uma recuperação doméstica, mas a demanda externa fraca tem limitado as altas no front internacional.
Agora, as atenções voltam-se às projeções para a safra deste ano no Brasil. A StoneX, por exemplo, está em meio à análise no campo e deverá divulgar previsões em fevereiro.
Fontes consultadas pelo Valor nas principais regiões produtoras de Minas Gerais afirmam que a próxima safra será, ao menos, “normal”, se comparada às duas últimas, que foram seriamente afetadas pelo clima. As lavouras ainda estão em desenvolvimento. O período de janeiro a maio é de expansão dos grãos, uma fase que ainda depende do clima.
O engenheiro agrônomo Adriano de Rezende, coordenador técnico da cooperativa Minasul, segunda maior central exportadora, atrás da Cooxupé, explica que 95% do fruto de café é composto por carboidratos adquiridos por meio da fotossíntese. Para que o processo caminhe bem será preciso chuva, temperatura adequada e sol até maio, época da colheita. Apenas 5% do carboidrato surge com a ajuda de adubação. Segundo ele, até agora, o pegamento (transformação de flor em fruto) foi um pouco prejudicado no sul mineiro pelas baixas temperaturas e por chuvas mal distribuídas.
Mas tanto na região da Minasul como em Patrocínio, no Cerrado mineiro – ambas com destaque na produção global de café arábica -, a expectativa é que a safra 2023 supere a produção de 2021 e 2022, mas fique abaixo da de 2020.
Segundo o superintendente da Cooperativa dos Cafeicultures do Cerrado (Expocaccer), Simão Lima, no Cerrado, estima-se produtividade de 32 sacas por hectare este ano; em 2022, o rendimento foi de 27. Frisando que se trata de “potencial”, visto que é cedo para cravar números, Lima diz ser possível que a região forneça perto de 6,5 milhões de sacas. No Cerrado, as chuvas estão favoráveis. Houve uma segunda florada atípica em dezembro em algumas áreas, mas nada alarmante, segundo o executivo.